Bravura Indômita (Joel e Ethan Coen, 2010)

O western revisitado...

Em sua cinematografia recente os irmãos Coen são reconhecidos pela alta dose de ironia e humor negro em seus filmes, encharcados em seus dramas/comédias. Ao tomar como exemplo alguns filmes recentes da dupla: "Onde os fracos não tem vez" (2007) e "Queime depois de ler" (2008), temos uma forte evidência desses elementos, presentes até mesmo em momentos de profunda dramaticidade.
Mas nesse novo filme, "Bravura Indômita" (2010), refilmagem do clássico de 1969, dirigido por Henry Hathaway, baseado no romance de Charles Portis, esses elementos foram deixados de lado e o que prevalece é um certo "retorno as raízes", mas não raízes da dupla e sim do cinema clássico consagrado dos anos 1950: o Western. Esse gênero já havia sido explorado pelos Coen em "Onde os fracos não tem vez", mas naquela o
casião foram acrescentados elementos "modernos" á narrativa, ou seja, o filme era um faroeste, mas se passava nos tempos de hoje.
Não é dessa maneira que "Bravura" é construído, aqui o gênero é explorado como foi no passado, utilizando elemen
tos caros ao Western: na história existe a vingança, o relacionamento entre desconhecidos, o duelo; nos personagens temos xerifes, matadores de aluguel, assassinos; e na constituição da época, cavalos, carroças, vestimentas, enfim, a história é construída nos moldes como se consagrou.
No enredo temos uma menina de 14 anos, Mattie Ross (Hailee Steinfeld), que jura buscar vingança e para isso "contrata" um federal, o Senhor Cogburn (Jeff Bridges, numa atuação de cair o queixo), para ajudar no serviço. Junta-se a essa dupla, um ranger texano, LaBoeuf (Matt Damon) e todos partem nessa empreitada atrás do assassino. A história, narrada linearmente, exceto por um momento, quando Mattie conta como seu pai foi assassinado, nos traz essa busca, ou seria errância? Desses 3 personagens que buscam um assassino e até que ponto cada um pode se sacrificar para atingir seus próprios objetivos: Mattie busca vingança, Sr. Cogburn quer o dinheiro e o ranger tenta representar a lei. Os personagens, muito bem construídos, são esteriótipos dentro do gênero, muito claramente demarcados: o ranger com uniforme e bigode; o federal, bêbado, corajoso e auto-confiante; e a menina indefesa, jovem e ingênua, que sozinha não pode fazer muito. Ela precisa de um mentor, construído na figura do Sr. Cogburn, esse último, o personagem que sofre mais transformação na história.
Enquanto narrativa, o filme segue o padrão do gênero: personagens hostis que são hostis com os demais, mas que aos poucos vão se solidarizando e ficando mais íntimos uns dos outros; peregrinação por diversos ambientes e cenários, passando por diferentes estações do ano; direção de arte, cenografia, figurino e objetos que sempre estão a favor da história, bem como os próprios animais, principalmente os cavalos.
Quanto a linguagem, não existe nada de inovador e acredito que nesse ponto se encontre a graça do filme, a decupagem, os diálogos, as posições e os movimentos de câmera não somente respeitam o gênero como
também prestam uma homenagem. "Bravura" é um clássico na sua essência e aqui cabe uma ressalva, os irmãos Coen se inovam ao reconstruir um gênero que nada tem de novo, ou seja, provam que também dominam a linguagem clássica para poder fazer o básico.
Ah, um fato, não falei da fotografia. Bom, como diria um grande amigo meu: "dizer que a fotografia desse filme é bonita, seria um pleonasmo."
Para finalizar, traçaria um rápido paralelo entre esse filme e um outro clássico do Western, "Rastros de Ódio" (1956) de John Ford, um dos meus favoritos, onde os protagonistas masculinos precisam salvar as personagens femininas, ambos se envolvem e se emocionam com a situação e no final, acabam sozinhos, para o bem e para o mal. E ao pensarmos no primeiro "Bravura", teríamos então um Jonh Wayne duplicado, mas essa deixa fica para a próxima prosa,


*Renan Lima é editor do Audiovisueiros

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