Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009)

Os Bastardos de Tarantino...

Bastardos Inglórios é um filme que teria tudo para ser "tosco" e bobo: um pequeno grupo de soldados denominados "Bastardos" circula pela Europa numa incansável busca por nazistas com o objetivo de derrubar o Terceiro Reich. Entre escalpos e suásticas, o que se vê na tela é um bom filme, uma obra reconhecida e identificada ao seu diretor. A pergunta é: o filme funciona por que sabemos quem o dirigiu? Saber, nesse sentido, quer dizer conhecer o "estilo" e o "método" de Quentin Tarantino. O roteiro, escrito pelo próprio, é o mais esperado por ele, que só sentiu-se pronto para escrever depois de pouco mais de 20 anos de carreira. Os diálogos, escritos em 4 línguas diferentes, são muito bons, com a dose certa de ironia e humor; os personagens são fortes completados por uma interpretação que beira o não-realismo: Christoph Waltz no papel do coronel nazista Hans Landa é um dos melhores, pena que a resolução de sua história, feita de forma simplificada e rápida, não esteja a sua altura; e Melanie Laurent no papel de Shosanna Dreyfus, uma judia que arquiteta o plano de destuição do império nazista, essa sim colocada num final surpreendente e inesperado. Tarantino abusa da metalinguagem e faz um filme dentro do próprio filme, explorando pelas vertentes a política de propaganda do império nazista. Por outro lado, em alguns momentos, o filme se faz extendo e cansativo, com pelo menos duas sequências que poderiam ser cortadas pela metade.
A fotografia, um dos primores do filme é eficiente enquanto linguagem, faz uso primoroso do extra-campo, principalmente na sequência inicial, quando a câmera dá uma volta completa no ambiente e realiza posteriormente um travelling para baixo nos revelando um fato crucial para o desenrolar da história. A trilha sonora, composta por diferentes estilos musicais é um dos pontos altos do filme, que constrói a partir desse pastiche musical os momentos dramáticos mais interessantes. A sequência do massacre na sala de cinema é outro ponto destacável, quando coloca-se na tela o desejo de muitas pessoas no mundo todo, assassinando o alto escalão do partido nazista de forma quase orquestral: inicia o filme (o filme dentro do filme), o cigarro ainda acesso é arremessado, as pessoas se desesperam, o fogo começa e rouba o lugar da tela dando forma ao rosto de Shosanna Dreyfus, quase como um fantasma gargalhando da desgraça nazista. Ao final, o personagem de Brad Pitt, Aldo Raine, após realizar com sucesso seu último feito, olha para a câmera, que representa a subjetiva de Hans Landa, e diz: "Acho que fiz minha obra-prima", seria essa uma fala do próprio diretor? A dúvida permanece...ou não.


*Renan Lima é editor do Audiovisueiros

Comentários

Maíra disse…
Acho que já discuti algumas vezes com você sobre o filme, mas não custa retomar.
Inglorious Bastards é genial porque é Tarantino. Funciona porque é Tarantino.

Eu sou suspeita, porque já falei dele antes aqui http://ideiasestranhas.wordpress.com/2009/10/12/tarantino-e-um-bastardo/ :}

Muito boa análise, Rê! :D
Gui Ferrari disse…
Eu nunca fui muito fã do tarantino, mas como diria ele.. cof, o personagem do Brad Pitt, essa foi a obra prima dele.


bjo!
neon disse…
o nazismo, alias o neonazismo atualmente vem a ser um tipo de "dinâmica social", digamos assim.. essa é a ditadura q vivemos hj, e sabemos de quem são os escalpos a ser esculpidos.. bastardos é o pronunciamento de um levante, principalemnte qdo se utiliza de goebels e cultura de massa pra fala da inflamação q uma película pode causar.. cinema, é fogo.. vide o final de o signo do caos, do sganzerla..

.).
Renan Lima disse…
Making of: Bastardos...

Why? Because we love make movie!!!

http://www.youtube.com/watch?v=LLkB9TaN9ng&feature=related

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