A terceira dimensão e a quarta parede II

(uma continuação)

2009. Toy Story já tem 14 anos de estrada e o anúncio do terceiro filme da turma de brinquedos malucos já foi feito para 2010. De lá para cá as coisas evoluíram bastante (a Disney até comprou a Pixar, quem diria), especialmente em termos técnicos. Adultos começaram a ir ao cinema para ver animação sozinhos, e deixaram as crianças em casa. Nada de infantilidade ou entretenimento vazio - agora, "narrativa cinematográfica" se aplica tanto a um Almodóvar quanto a John Lasseter, o chefão da Disney/Pixar. O tal fenômeno tem explicações simples - os pais não aguentavam mais filmes musicais que as crianças adoravam e eles bocejavam - e complexas - a animação representa a fuga da realidade em sua máxima essência, por permitir a suspensão da descrença por meios primariamente abstratos como a própria representação gráfica de realidades paralelas e mundos inexistentes. Falando fácil ou difícil, o importante é que o público adulto perdeu a vergonha de comprar ingressos pra matinê dublada, e só vem ganhando com isso.
Três bonitos exemplares da nova geração 3D estão nos cinemas pra quem quiser espiar: Up - Altas Aventuras (Up, dir. Pete Docter e Bob Peterson, Disney/Pixar), Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy with a chance of Meatballs, dir. Phil Lord e Chris Miller, Sony) e 9 - A Salvação (9, dir. Shane Acker, Focus Features).
Três animações de estilos completamente diferentes. Up se aproveita muito bem da rasteira de sucessos consecutivos da Pixar com alta qualidade técnica - é impossível descrever o quanto é difícil fazer balões transparentes e que parecem flutuar de verdade! - e apelo forte para as emoções que só os adultos entendem, como a saudade, a solidão e a velhice. Carl é um velho ranzinza cativante e os 10 primeiros minutos do filme valem lágrimas e risos. Tá Chovendo Hambúrguer já explora um veio essencialmente infantil, do sonho de todo moleque banguela que é o de que, um dia, chova comida do céu. De novo, a Sony, que é novata no ramo, esconde piadinhas ácidas e nerds em vários diálogos, ao mesmo tempo em que enche os olhos com todo tipo de guloseima representada em gráficos tão realistas que dão fome. 9 vai ainda mais longe. Aqui, não há nada para crianças, exceto talvez a moral de salvação do mundo. Não há mais humanos, não há mais vida; só engenhocas macabras que caçam as únicas criaturas capazes de dar continuidade àquilo que os homens não souberam cuidar. A técnica é tão menos impressionante do que a força da mensagem, mesmo que o filme escorregue na superficialidade dos personagens e em outros detalhes.
Sim, nenhum dos três filmes é perfeito, de fato. Há problemas de roteiro, de motivação de personagens, até mesmo de exacerbação da técnica. Mas não custa brincar de ser criança. Ficou curioso como as coisas conseguiram chegar até aqui? Dê uma olhada no trailer de Toy Story 3, a trilogia do grande clássico, e tire suas próprias conclusões.

(com a little help de Omelete, Smelly Cat e IMDB)

*Maíra Testa é colaboradora do Audiovisueiros

Comentários

Gui Ferrari disse…
deu uma vontade de assistir toy story 3. Mas talvez seja só nostalgia de ver o trailer.

Vamos ver no que vai dar!
hehehe ótimo texto novamente!
Renan Lima disse…
Acho que o 3º Toy Story pode ser um pouco "too much" mas sim quero ver...

Não vi nenhuma das animações citadas mas ouvi comentários das pessoas e acho que é super válido brincarmos de ser criança sim, por que afinal qual a graça disso tudo?
Unknown disse…
Re.. claro qeu não é too much.. too much são os "4".. até 3 tá sempre bom (Star Wars... Indiana Jones, De volta para o futuro)
Renan Lima disse…
Concordo Babi, em parte, e como você explica o "esqueceram de mim"?
Unknown disse…
Quando troca o ator não vale.. é uma continuidade de contexto, mas não de história, é como Efeito Borboleta 2.
Toy Story 3 são os mesmos protagosnistas de sempre =D
Renan Lima disse…
E shrek? "Missão impossível" também vale?

Para não falar do "Rei Leão" e do possível "Se eu fosse você 3"...

huahauhauahauhauhauahauhaa,

que discussão hein!!!

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