É proibido fumar (Anna Muylaert, 2009)

Sobre músicas e cigarros...

O 2° longa-metragem dirigido por Anna Muylaert (o 1° foi Durval Discos, 2002), trás a história de Baby (Glória Pires), coroa solteirona, fumante, professora de música, que vive no apartamento deixado pela mãe e Max (Paulo Miklos), um homem de meia-idade, músico e "supostamente" divorciado. Eles acabam se conhecendo quando ele se torna vizinho de apartamento dela, mas logo descobrem que ambos nutrem um gosto em particular, a música, mas divergem quanto ao gosto pessoal. De qualquer maneira a relação se constitui, entretanto Max não permite que Baby fume em seu apartamento, daí o título do filme e a iniciativa de Baby em parar de fumar. Com o decorrer do tempo, Baby descobre que Max mantém contato com sua ex-mulher, que é fumante.A trama se desenvolve de maneira simples, Baby gosta de Max, mas ao mesmo tempo sabe que ele alimenta uma mentira: de não manter relações com sua ex, contudo, a situação muda quando um fato inusitado retira a "ex" da vida do casal. Baby é uma mulher que vive no passado, no passado da mãe, enquanto mantém uma relação de tapas e beijos com suas 2 irmãs, já Max é um cara que ainda tem um pouco a curtir na vida, mas encontra em Baby seu "porto seguro".O filme preza por um tom realista dado pela fotografia quase sem contraste, marcada por movimentações em travellings (algumas vezes de maneira desnecessária) que ajudam a compor o 1° e o 2° plano no quadro, e por alguns movimentos de grua que dão tom mais emotivo ao filme, principalmente no plano do cemitério. A direção de arte, um ponto muito forte no filme, trabalha em cima do cotidiano e do básico, a cenografia e os objetos dão o tom nostálgico para o apartamento de Baby, de um não desvincilhamento do passado, bem como o figurino, exagerando na utilização de moletons de cores extravagentes que sugerem uma forte ligação com o comodismo da personagem. O som, marcado bastante pela trilha sonora, compõe uma ponte interessante entre os momentos de comédia e de não comédia, com algumas piadas soltas e pausas dramáticas silenciosas. O roteiro é marcado por bons diálogos mas peca por uma certa obviedade, ele não nos surpreende ao ponto de causar surpresa, mas se estabelece como um guia seguido pelos personagens principais.Glória Pires atua de maneira convincente, buscando o roteiro e improvisando quando necessário, já Miklos faz o contrário, improvisa o tempo todo e isso provoca um certo descompasso entre os dois, ora de maneira positiva, logo no começo da trama e hora de maneira negativa, já no final do filme.O filme vale a pena principalmente pela simplicidade e pela sinceridade com que a história é contada. Nada de novo, mas pelo menos não é igual ao resto.


*Renan Lima é editor do Audiovisueiros

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